Especialistas debatem a importância da literatura para a inserção da diversidade na escola

Ação realizada pela autora de obras infantis afronarrativas, Kiusam de Oliveira, irá ocupar o instagram da atriz Débora Secco durante o dia 17 de julho; programação inclui lives e debates sobre a diversidade racial com as educadoras da Camino School

A diversidade quando não aceita pode transformar-se em motivo para que o diferente seja relacionado a algo negativo, sendo alvo de preconceito e violência. Entender que o diferente é uma potência, formando cada indivíduo de maneira particular, é uma missão que requer muito debate, conversa e reflexão. No entanto, tratar desse tema não é exclusividade de uma só faixa etária ou de um grupo específico, mas, sim, um desafio que precisa estar na cabeça e nas atitudes de todos. E como uma das principais formadoras de cidadãos, de conscientização, cujo objetivo é educar, a escola é o elemento que exerce papel fundamental nesse diálogo. 

Pensando em uma forma de discutir o tema, a autora de obras infantis afronarrativas, Kiusam de Oliveira, realizará uma ocupação na conta da atriz Débora Secco no Instagram, que conta com quase 20 milhões de seguidores, durante o dia 17 de julho. Às 14h, será possível acompanhar uma live sobre a importância da literatura na representatividade de crianças negras na escola com a diretora da Camino School, Leticia Lyle, a educadora Juliana Bueno, professora de Cultura Popular Brasileira, disciplina que trata a pluralidade cultural no Brasil e as influências afro e ameríndia, na Camino School, e também a atriz e apresentadora Samara Felippo.

Para a professora Juliana Bueno, o primeiro espaço de formação da visão de mundo das crianças é a escola. Portanto, trabalhar a diversidade é o reflexo da sociedade atual que tem essa característica e precisa ser representada. “A escola tem que oferecer essa diversidade em papéis que as crianças não estão acostumadas a ver. Elas já viram pessoas negras, por exemplo, em papéis de servidão, e não é só nesses lugares que os negros têm que estar expostos, sobretudo para as crianças”, afirma.

Leticia Lyle, cofundadora da Camino Education e diretora da Camino School, explica que a educação que promove um mundo de maior equidade precisa de instituições de ensino que tratem do assunto. “A diversidade precisa ser trabalhada para que os estudantes entendam os conceitos de um mundo complexo. A educação que não trabalha diversidade está fazendo uma escolha de não demonstrar o diferente. Discutir questões raciais, as diferenças, as origens e trabalhar a importância da cultura dos lugares é essencial para a qualidade da educação, porque é com ela que construímos o mundo, a vida e toda a sociedade”. 

A diretora ainda ressalta que os currículos escolares precisam abordar a diversidade não só nos conteúdos pedagógicos, mas também em sua forma de gestão, com profissionais que representem os mais diversos perfis, culturas e origens. “Por muito tempo, a escola tinha um perfil heterogêneo e as escolas urbanas, desde o século XX, passaram a ser multiculturais, com crianças e até educadores de várias etnias e contextos sociais. No currículo é necessário considerar alguns elementos: quem são as crianças, qual a cultura delas, qual o contexto em que vivem. É preciso trabalhar a representatividade dentro das escolas com figuras de sucesso, com professores de diferentes culturas, com as personalidades que foram ícones nessas discussões, como Martin Luther King, oferecendo um conteúdo culturalmente relevante. ”

A diversidade por meio da leitura

Segundo as educadoras, uma das formas de inserir o assunto dentro das escolas é por meio da literatura. “Ter obras em que a diversidade é mostrada faz com as crianças, em seus diferentes perfis, se identifiquem. Precisamos mostrar os conceitos do passado, como os índios que perderam suas terras e os negros escravizados, e trazer para o presente, contando como esses índios e negros, atualmente, também estão nas faculdades, se tornaram médicos, ou estão em qualquer outra profissão. Existe a pluralidade no país, no mundo, e é necessário retratar essas culturas de uma forma mais verdadeira”, conta Juliana Bueno.

Um dos exemplos de obras infantis que pode ser utilizado nas escolas é O Black Power de Akin, de Kiusam de Oliveira. O conto traz a história de um jovem negro de 12 anos que não aceita seu cabelo de origem afro por ser motivo de piada entre os colegas na escola, e acaba aprendendo a importância da sua origem e a sentir orgulho das suas próprias características. A história traz a representação da realidade de muitas crianças negras que sofrem por conta do preconceito. 

Juliana explica que com obras como essa os estudantes conseguem entender a questão, analisando e refletindo sobre o problema exposto. “Falar da origem das histórias, das músicas, contextualizar com brincadeiras permite que os estudantes, principalmente os menores que têm esse primeiro contato com o tema, comecem a assimilar e entender. É preciso mostrar o problema, o racismo, o preconceito, e ensinar as crianças a conhecerem a diversidade. A criança não nasce racista, mas ela reproduz o que ela vê”.

Nesse contexto, o papel da escola inclui introduzir a temática com as famílias para que a aprendizagem sobre diversidade seja continuada dentro de casa. “As famílias muitas vezes não sabem como fazer isso. Nossa geração de adultos foi ensinada a ficar com vergonha de falar de racismo, questões de gênero, dentre outros; por isso, a discussão é tão aquecida. As manifestações atuais incluem uma união de pessoas brancas e negras que estão cansadas de verem essas diferenças serem determinantes para casos de violência, e os familiares precisam entender a importância de falar sobre isso e de educar os estudantes em conjunto com as escolas”, diz Leticia Lyle. 

A professora de Cultura Popular Brasileira ainda ressalta que criar alternativas para que as famílias participem é parte do processo de formação cidadã do estudante. “Trazer palestrantes para conversar com os pais, especialistas para falar com as crianças, contar histórias, tudo isso faz parte da educação e do entendimento sobre a diversidade”, afirma Juliana.

Por conta disso, o papel das instituições de ensino na busca de se discutir a diversidade é ainda mais reforçado em tempos onde a reflexão precisa fazer parte da formação dos jovens desde cedo. “A escola que escolhe não falar de racismo e de valores de igualdade está contribuindo para que as crianças concluam que isso não é importante. Esse é o principal problema de não falar sobre diversidade nesses espaços”, conclui Leticia. 

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